segunda-feira, 22 de junho de 2015

Espetáculo 2012











MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA

MENÇÃO HONROSA

O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária atribui “Menção Honrosa” à Penitenciária Feminina da Capital de São Paulo pela participação no Concurso Prêmio Nacional de Boas Práticas promovido pelo CNPCP no ano de 2011, com o Projeto Almas em Movimento. 


GEDER LUIZ ROCHA GOMES
Presidente do CNPCP



Matéria no jornal da SAP

Governo de São Paulo
Secretaria da Administração Penitenciaria

Onde está o tesouro?

Detentas da Penitenciária Feminina da Capital apresentam musical
http://www.sap.sp.gov.br/noticias/not95.html

“Superando os problemas é que a gente cresce, trabalhando duro a vitória acontece. Se não acredita em mim, vê se me esquece. Mereço uma chance, quem não merece?”, paródia da música “Mas que nada” – Black Eyed Peas, por Fábio Boca voluntário e rapper do projeto Almas em Movimento.
Foi em um palco improvisado na capela da unidade e com plateia lotada, que as reeducandas da Penitenciária Feminina da Capital emocionaram a todos os presentes na apresentação de final de ano do Projeto Voluntário Almas em Movimento.
O musical de 2011 contou com a participação de 47 alunas, 11 brasileiras e o restante do elenco estrangeiras vindas de mais 19 países. Desenvolvido há quatro anos em parceria com a direção da unidade, o programa recebeu menção honrosa pela participação no Concurso Prêmio Nacional de Boas Práticas promovido pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP).

Era uma vez...
Há muito tempo vivia na cidade de Basrah uma jovem chamada Fahima, o significado do seu nome é: aquela que compreende. A princesa das estrelas vive uma paixão cega, engravida e é abandonada. Desorientada pelo caos em que se encontra a sua vida atual, ela sai à procura do seu “verdadeiro” tesouro, ou seja, do seu retorno a si mesma.
Mulheres de diversas origens cruzam seu destino e através de suas experiências, tentam indicar à Fahima, o caminho da sua busca. Mas apenas quando a princesa chega à montanha mais distante e depois de muita procura ela descobre qual é o seu verdadeiro tesouro: a felicidade está em celebrar e agradecer.
Para a coordenadora do projeto Mônica Jurado, a estória escolhida não é pertinente apenas às mulheres encarceradas, mas as de todas as idades, religiões e culturas. “Ao cantarmos e dançarmos nossas dores e tesouros, acabamos por compreendê-los melhor, sobre todos os aspectos”, reflete Mônica.
Ainda segundo a coordenadora, a intenção do programa é revelar o delicado e corajoso universo feminino, suas conquistas e ambições internas, levando assim um outro olhar ao mundo extramuro.
Com duas aulas semanais de 1h15 de duração cada, o projeto proporciona às reeducandas o aprendizado de técnicas de voz e palco, dança do ventre, percussão, flauta, circo, princípios de cenografia e iluminação, a fim de lhes possibilitar todas as ferramentas necessárias para uma montagem cênica avançada.
Os diversos voluntários, cerca de um para cada seis a oito alunas, possuem formação artística e procuram estimular a produção de poemas e músicas, que costumam ser utilizados nas produções, além de dar expansão ao talento e aptidão natural de cada uma.
O musical de 2011 ainda não é o resultado final. O processo deverá avançar em 2012. A ideia é continuar na busca por encontrar os fragmentos esquecidos no decorrer das histórias dessas mulheres que muitas vezes deixam para trás suas verdadeiras essências e se esquecem de quem realmente são.





sexta-feira, 4 de maio de 2012

Movimento. Instantes de arte, beleza e liberdade vividos em um presídio


Yoga Journal
Revista Viver Bem
Viver Zen // por Monja Coen

Fui convidada a assistir a uma apresentação musical no Presidio Feminino da Capital, em São Paulo, no final de 2010.
O espetáculo foi na capela, onde são todas as apresentações no presídio.
No que seria o altar, o palco.

Grandes cantoras, bailarinas, atrizes, mulheres.
Mulheres fortes.
Mulheres sofridas.
Mulheres lindas.
Mulheres esquecidas e ali relembradas da sua sensibilidade, beleza, nobreza.
A vida vive, em cada uma, uma vida.
Loiras, morenas, negras, mestiças, árabes, judias, europeias, asiáticas, indígenas.
Centelhas sagradas.
Sorrindo assustadas. Respiram profundo e devolvem ao mundo a transgressão.
Milagre é seu nome.

FILHAS DE TODA A TERRA.
Da Hungria, África do Sul, Angola, Portugal, Espanha, Alemanha, América do Norte, Central e do Sul e dos nossos brasis tão variados.
Lindas cantaram e juntos todos e todas cantamos.
Choramos.
Emocionante.
A beleza.
Menos de seis meses e lá estava um espetáculo digno de grandes teatros.
Mulheres aprisionadas por erros, por faltas.
Mulheres transgressoras.
Quem de nós já não transgrediu?
Não eram elas e nós. Éramos todas nós que estávamos lá.
Estávamos lá.
Por seguir o coração.
O coração que engana e do qual é impossivel se separar – cantou em inglês.
De onde viria essa minha tia? Irmã, amiga? Que transgressão seu coração a obrigou a transgredir?
Fico pensando em nossas pequenas transgressões diarias, escondidas, reveladas.
Luz, beleza, dança, leveza, sensualidade, harmonia.
No final, as guardiãs buscando que voltassem aos seus pavilhoes – platéia e palco – aos seus pavilhões.
E voltamos todos e todas aos nossos pavilhões, aos nossos grilhões. Pavilhões de nossas familias, casas, trabalhos, status,  e sabe-se lá o que mais.

O que é liberdade?
Livre é o pássaro? Mas ele também está sujeito a seu tamanho, seu espaço.
Não pode ir mais alto que seu limite, nem mais baixo. Vida por um triz. Sempre por um triz.
Liberdade de escolha.
Escolher o quê quando não há o que escolher?
Você não é presidiária. Você está presa. Estamos assim. Erramos, corrigimos o erro. Caminhamos.
Mulheres femininas, mulheres masculinas.
Seres humanos em profunda emoção.
Foi lindo, solene.
Amanhã outro dia, como este dia, como este dia.
Olhando as unhas, atravessando o palco.
Esses meses de treinamento, de ensaio, foram sagrados.
Passaram tão rápido.
As apresentações mostrando que a vida é mais forte que a dor.
Que não há prisões para corações libertos.
Porque é possivel voar.
Nada obstrui ou impede o voo celeste da mente liberta de todas as manipulações.
Mães e filhas. Irmãs, companheiras.
Momentos.
Daqui a alguns anos apenas memórias.
Memórias distantes de alguns anos apenas.
Teria sido eu?
Como era minha cela?
Será que me lembro do odor do sabão?
Só mais sete meses e saio daqui, alguém me falou na hora de ir.
As fotos rolando no fundo do palco.
Crianças fofinhas, crianças aguardando.
As mães aprisionadas por emoções, por erros nas ações, por instigações e investigações.
Então agradeço ao amor que me fizeram sentir.
Amor pela vida, pela música, pela arte, pelo instante de luz.
Cerejeiras em flor.
Breves instantes de beleza, arte e amor.
Agradeço e as levo comigo onde eu for.
Mãos em prece.

Monja Coen é missionária oficial da tradição Zen budista Soto Shu e praticante de Yoga.
texto publicado em fevereiro de 2011